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Ao apontar o objeto de sua análise historiográfica – a “microfísica do poder punitivo” (FOUCAULT, 2009, pp. 31-32) -, Foucault procura escapar a certos inconvenientes e insuficiências de uma análise histórica refém dos paradigmas marxistas que orientavam o pensamento político até então; a saber: o paradigma da ideologia, de um lado, e o paradigma dos aparelhos de Estado, de outro. O marxismo, por insistir na tradução do fenômeno do poder em termos de uma fantasmagoria ideológica – o que acabaria por converter o campo no qual as relações de poder investem-se e se desinvestem num lugar em que desfilam os simulacros, as falsificações, os velamentos etc. -, teria perdido a própria concretude das relações de poder. Compreende-se tal concretude, é importante frisar, como sendo os investimentos de poder sobre o corpo através de tecnologias específicas e relativamente bem situadas historicamente, segundo as estratégias das quais ele serve-se e cuja consideração garante a inteligibilidade do fenômeno do poder.